A dança é um exercicio natural e o mais agradavel de todos. Obriga a movimentos tão rapidos de extensão e flexão, a gestos e attitudes tão varias, que se ha de considerar como um dos exercicios que mais desenvolvem os musculos. Mas os das pernas e parte inferior do tronco contrahem-se mais que os da parte superior, espadua, braço e ante-braço. Por isso convirá associar á dança outros exercicios que actuem tambem no thorax e seus membros.
A dança além de desenvolver os musculos, activa a circulação dos membros inferiores, compõe o corpo, dá elegancia aos movimentos e rectifica as attitudes defeituosas ou desengraçadas.
A dança entre os antigos era um dos exercicios mais communs e que mais contribuía para a perfeição physica. Havia-as de differentes generos: tragicas e graves, comicas, militares, religiosas, etc.
N'uma boa atmosphera physica e moral a dança é um exercicio conveniente e até necessario. Mas dançar por muitas horas em salas, cujo ar as luzes artificiaes, o pó e a respiração de muitas pessoas tornam impuro dançar com espartilho, calçado apertado, em vez de fortalecer o corpo e conservar a saude, enfraquece e dispõe para as congestões, tysica e outras enfermidades.
Quando a sociedade observar os preceitos da sciencia, como outr'ora observava a hygiene que a religião prescrevia, os bailes hão-de acabar, isto é, os bailes de estufa que fazem enfermar o corpo e o espirito.
Pelo contrário, as danças em familia, as danças ao ar livre, serão muito mais praticadas que hoje em dia.
Para que não pareça infundada a nossa opinião ácerca dos bailes, aqui a reforçaremos com a do mais popular dos hygienistas francezes. No assumpto elle dirige ás suas compatriotas o seguinte:
« O que é um baile: andar com febre oito dias antes, por causa dos preparos de uma toilette, que agita o espirito com alvoraçadores problemas; fazer da noite dia, e do dia noite; viver seis ou oito horas ´n'uma atmosphera de ar viciado e de perfumes, cujo oxigenio as velas e os pulmões consomem á porfia, carregando-a de acido carbonico e de humidade tão copiosa que embacia a superficie dos espelhos; excitar-se com uma dança moderada no principio, mas que, accelerado o rythmo, chega a parecer-se com a dos Corybantes ou das Ménades; padecer sem que a embriaguez dos sentidos o deixe sentir, os inconvenientes da excessiva fadiga do corpo; perder a um tempo n'este ambiente a saude e talvez tambem, se não a pureza, ao menos a simplicidade; adormecer ás tres horas da manhã, acordar ao meio dia, meditando nos tristes dias que se seguem ao do baile. Hade a hygiene callar-se e deixar sem censura tal desafio feito á saude?! Não, não póde commeter tamanha injustiça.»
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Da " Encyclopedia das Familias "
Nº91, oitavo anno, 1894