Cabellos

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Soltae, soltae, Senhora, esses cabellos

Como um enorme manto;

Que eu possa enfim desenrolalos, vel-os,

Agital-os, beijal-os, embebel-os

Nas aguas do meu pranto.

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Que eu possa néssa tréva condensada

Pousar a fronte ardente;

E dormir, e sonhar. E não ver nada

Mais que essa eterna noite, carregada

De aromas do Oriente.

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Que eu possa erguel-os com as mãos no ar

E lançal-os no espaço

Como bandos de corvos a voar

Cabellos negros como um negro mar,

Fortes cabellos d'aço!

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Como o arabe perdido no dezerto

Exausto, semi-morto,

A quem o oasis lembra o ceu aberto,

N'esses cabellos d'ebano, de certo

Eu acharei conforto.

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Que eles me envolvam como uma mortalha

Bem leve e perfumada!

Bandeira negra em campo de batalha,

Tremulante, varrida da metralha,

E toda esfarrapada!

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Soltae, soltae, Senhora esses cabellos

Como um enorme manto;

Que eu possa enfim desenrolados vel-os,

Agital-os, beijal-os, embebel-os

Nas aguas do meu pranto.

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Eduardo Pacheco

" Encyclopedia das Familias "

Nº94, oitavo anno, 1894